Como educar crianças mimadas?

Nós listamos 4 dicas de como ensinar uma criança mimada a lidar com a frustração


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Educar crianças é um desafio, já que é necessário estar atento às necessidades e aos cuidados que elas exigem. Já educar uma criança mimada é mais trabalhoso. Só que essa é uma situação que gera muitas dúvidas entre os pais ou responsáveis, por exemplo: como saber se o meu filho é mimado? Caso ele seja, como educá-lo? O que fazer para não mimar demais a criança?

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Para responder a essas e a outras perguntas, entrevistamos profissionais da área de Educação e de Psicologia. Confira:

Quando eu devo começar a educar o meu filho?

A criança deve ser educada desde pequena, quando ainda está no berço. Por isso, a educação começa dentro de casa. É verdade que a personalidade influencia o comportamento de uma pessoa, mas a educação e os valores ensinados pela família também são importantes.

A pedagoga Lisley Amado afirma que “se os adultos que cercam a criança estimularem, mesmo que de forma inconsciente, o individualismo, a mediação da vida por dinheiro e status e a superproteção estarão contribuindo para que a criança se torne mimada e sem limites”.

Esse comportamento pode ocorrer quando os responsáveis, com o objetivo de fazer com que o filho não passe pelas mesmas dificuldades ou problemas que eles viveram, tentam poupá-los. No entanto, esse é um erro comum que faz a criança não aprender a lidar com a frustração. “Poupar os seus filhos dessa maneira é como se estivesse evitando criar anticorpos emocionais para que depois ele possa sobreviver aos ‘nãos’ da vida”, afirma a psicóloga Camila Cury, diretora do Grupo Educacional Augusto Cury.

Além disso, compensar a ausência, evitar situações estressantes ou simplesmente querer agradar, são outros fatores que fazem com que pais, avós, tios, enfim, os adultos ao redor, mimem os pequenos, ainda que com boas intenções. Porém, o que se vê depois é um ciclo de desejo e frustração, como explica a pedagoga Lisley, “a criança fica cada vez mais cheia de vontades, disposta a consumir”. 

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Como fazer para não mimar demais o meu filho?

Para a psicóloga Camila, ao mesmo tempo em que é necessário ensinar a criança a se colocar no lugar do outro, também é preciso que os pais se perdoem, isto é, não se cobrem tanto, por exemplo, pelo tempo longe do filho devido ao excesso de trabalho. Além disso, é importante não tentar compensar a ausência com agrados.

Querer dar o melhor ao filho não necessariamente tem a ver com o poder aquisitivo dos pais, até porque há crianças mimadas nas diferentes classes sociais. “O que existe são pais que não sabem dosar o mimo, até porque, mimar é importante. Gestos carinhosos criam um ambiente mais agradável e propício para um desenvolvimento emocional e social do filho”, afirma o psicólogo Breno Rosostolato, professor da Faculdade Santa Marcelina.

Outro ponto que merece destaque é o exercício de compartilhar, que deve ser ensinado à criança desde sempre. O psicólogo lembra que, antigamente, os pais praticamente não tinham que ensinar a criança como se deve dividir, pois isso fazia parte da rotina em uma casa com muitos filhos. Hoje, com o aumento de recursos e a diminuição no número de filhos por família, dividir, muitas vezes, não faz parte da experiência cotidiana. Por isso, essa ação precisa ser incluída no processo de educação,  com os pais dando o exemplo. Para Breno, a contradição dos pais entre o discurso e a ação é o principal problema na educação dos filhos “Os pais devem ser referência para os filhos, porque assim, eles terão uma base sólida e sustentação emocional para realizarem suas escolhas”, destaca o profissional.

 

Como saber se o seu filho é mimado?

Os especialistas destacam que em uma época da infância, aproximadamente até os seis anos de idade, é comum a fase do “é meu”, do egocentrismo, quando a criança começa a ter uma melhor noção da possessão. No entanto, existem algumas atitudes que pais e cuidadores podem adotar para evitar um comportamento egoísta, principalmente nesta fase, como elogiar quando o pequeno compartilha algo com você ou com outra pessoa. “Os pais precisam estar dispostos a corrigir esse comportamento e estimular a criança a compartilhar”, afirma a pedagoga Lisley.

Birras, choros e imposição de vontades são comuns a todas as crianças. Os adultos precisam estar atentos à frequência e à intensidade em que essas situações ocorrem. Além disso, a psicóloga Camila chama a atenção para um detalhe importante: “os pais precisam começar a perceber e não só repreender o comportamento da criança, mas se questionar o que tem levado seus filhos a serem mimados”. Refletir, por exemplo, se o pequeno aprendeu a ouvir “não” é um bom questionamento.

A psicóloga destaca, porém, que se a criança tiver realmente grandes dificuldades com limites, pode ser preciso buscar ajuda profissional, como um psicólogo ou orientações da própria escola.

 Como educar crianças mimadas

Muitos pais e responsáveis sabem que o “não” é importante e que a criança deve ter limites. Porém, na hora da prática, surgem dúvidas sobre como e o que fazer. Por isso, listamos abaixo algumas dicas, confira:

  • Birra: os pais devem conversar com a criança e respeitar a crise, afinal, ela está lidando com a frustração. Porém, a decisão que causou a birra deve ser mantida, caso contrário, o pequeno aprende que esse é um modo de conseguir o desejado;
  • Mesada: para evitar o consumo excessivo de brinquedos, os pais podem estipular uma mesada. “Se ela gasta tudo de uma vez, tem de esperar até o próximo mês para comprar alguma coisa. Assim, ela vê a real função do dinheiro”, explica Lisley. Além disso, a mesada faz parte da educação financeira que a criança deve receber;
  • Comunicação: a boa e velha conversa é sempre um caminho melhor e mais agradável do que a agressão ou a gritaria. Nesse sentido, é importante escutar o que a criança tem a dizer e, também, explicar para ela o porquê que certas atitudes são erradas;
  • Postura exemplar: as crianças costumam observar e reproduzir os comportamentos dos adultos ao redor. Por isso, “postura exemplar” não deve ser tomada como sinônimo de perfeição, mas como um modo de agir que influenciará o pequeno nas próprias ações. Nesse sentido, por exemplo, é melhor falar baixo e calmo do que pedir para a criança não gritar. Afinal, se ela convive com pessoas que gritam, ela acabará gritando também. 


A fase adulta de crianças mimadas

Ter uma infância mimada não significa, necessariamente, que ela implicará em consequências ruins no futuro. No entanto, há mais chances de a criança se tornar um indivíduo egoísta e com dificuldades para lidar com frustrações. “A pessoa cria expectativas sobre a própria vida, pautada em idealizações. São essas expectativas que levam à frustração, porque a realidade com que se confrontam rompe com as fantasias”, explica Breno.

Ao ter que lidar com diversas pessoas no convívio social, o adulto em questão percebe que os outros não cedem a todas suas vontades. Além disso, tendem a não seguir orientações de liderança, como do chefe no trabalho, ou mesmo críticas de colegas. “Outra coisa que pode acontecer é tornar-se um chefe ou um líder que usa o poder para maltratar, prejudicar e desprezar, impondo sua maneira de pensar”, salienta Lisley. 

 

O caçula não precisa ser o filho mimado

É comum a ideia de que os filhos mais novos são também os mais mimados. Porém, é o comportamento dos responsáveis que reforça esta ideia. Os pais superprotetores tendem a achar que o filho mais novo precisa de mais cuidados. “Os irmãos mais velhos também podem acabar querendo cuidar do mais novo, tanto para se sentirem superiores (por mandarem no mais caçula), como por perceber este comportamento por parte dos pais”, destaca a pedagoga Lisley Amado. 

Para a psicóloga Camila Cury, pode acontecer, ainda, de os pais estarem mais despreocupados na última gestação, além da idade mais avançada, já que os pais podem estar com menos energia e motivação para dar limites. “Não é porque o filho é mais novo, mas o momento dos pais é que faz a diferença em mimar ou não o filho”, salienta Camila.

O psicólogo Breno Rosostolato é enfático: “é necessário a coerência na educação e passar a ideia de igualdade entre os irmãos”.

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Esta matéria é uma adaptação do artigo escrito pelo projeto Escolas do Bem, programa de responsabilidade social vinculado a ONU.