Dislexia na educação infantil: o que é, como tratar e os desafios no processo de aprendizagem

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“Essa criança é preguiçosa”, “Ele só dá trabalho na sala de aula”, “Ela não consegue se concentrar.” Essas são algumas das frases mais ouvidas - e até ditas - por pais de crianças com dislexia. Apesar de ser uma condição comum, a dislexia infantil, quando mal interpretada por outros, pode ser prejudicial para o portador do distúrbio, causando baixa estima e depressão. 

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Para desmistificar algumas questões sobre o transtorno, conversamos com a fonoaudióloga Luciane Moretto, que nos explicou sobre os sintomas mais comuns e os desafios em torno da dislexia na educação infantil.

O que é a dislexia infantil?

A dislexia infantil é a dificuldade da criança em identificar o grafismo das letras e números, ou seja, de relacionar os seus desenhos com o som emitido. “Ela não entende, por exemplo, que a letra “e” tem três perninhas”, explica Moretto, “Não é uma coisa visual, é uma questão do processamento neurológico". Sendo assim, a dislexia pode ser classificada como um distúrbio de aprendizagem verbal.

Ao contrário do que muitos pensam, ser dislexo não quer dizer, porém, que a criança seja menos inteligente do que outras. As pessoas com o transtorno possuem visão e inteligência normais, a única diferença é que ela apresenta uma dificuldade de leitura. 

A fonoaudióloga explica que a dislexia é uma condição  crônica e não tem cura, mas, com um acompanhamento adequado, pode ser facilmente controlada. Para se ter uma ideia do quão comum a dislexia é, estima-se que 5% a 17% da população mundial seja portadora do distúrbio, de acordo com a Associação Brasileira de Dislexia (ABD).

Como identificar a dislexia nas crianças?

De acordo com Moretto, a dislexia pode ser diagnosticada na fase de pós-alfabetização da criança, que ocorre entre os 8 e 10 anos de idade. Se nessa idade a criança apresentar uma leitura lenta e difícil - como se ainda estivesse aprendendo as letras - isto é um sinal de alerta.  

O transtorno pode ser inicialmente identificado tanto pelos responsáveis quanto pelos professores e os sintomas mais comuns são:

  • Desatenção;

  • Dificuldade em estabelecer relação do som com o símbolo;

  • Inversões de letras, como “D” e “T”;

  • Confusão de símbolos matemáticos;

  • Falta de foco e concentração;

  • Desinteresse por assuntos escolares.

  • Falta tardia;

  • Aprendizagem lenta de novas palavras;

  • Atraso na aprendizagem da leitura.

Moretto afirma que é normal que os pequenos com dislexia se esquivem na hora de fazer a lição de casa, por exemplo. Essa falta de interesse acontece não porque ela não quer aprender, mas porque ela não entende o que está sendo ensinado.

Além disso, é importante ficar de olho no antepassado da sua família pois ela pode ser uma herança genética. Porém, antigamente era muito mais difícil vermos casos diagnosticados desse distúrbio de aprendizagem.

Os sintomas citados acima podem estar atrelados também a outros tipos de distúrbios. Sendo assim, é importante que os pais procurem por profissionais que os ajudem a descartar outras possibilidades até chegar na dislexia. 

Segundo a fonoaudióloga, ao realizar este processo de eliminação, o especialista deve levar em consideração fatores como:

  • o desenvolvimento infantil da criança;

  • se ela teve um nascimento correto;

  • se ela não tem algum problema visual;

  • se não sofreu nenhuma perda durante os primeiros anos de vida, como má nutrição,

  • falta de estímulos sensoriais e de carinho. 

Quais os tipos de dislexia infantil?

A dislexia pode ser classificada de acordo com o tipo, além de ocorrer em distintos níveis ou graus. De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia, são seis categorias possíveis, são elas:

  • Adquirida; 

  • Superficial; 

  • Profunda; 

  • Fonológica; 

  • Visual; 

  • Auditiva.

Quais profissionais podem ajudar a diagnosticar a dislexia?

Para que o transtorno possa ser diagnosticado de maneira assertiva e para que o tratamento seja definido, os responsáveis devem procurar a ajuda de um neurologista. O médico com essa especialidade é o único que pode determinar se a criança realmente tem ou não dislexia. Após diagnosticada, a criança necessitará de acompanhamento profissional, pelo menos nos primeiros anos, de uma fonoaudióloga, psicoterapeuta ou de uma terapeuta ocupacional (T.O).

5 celebridades que são portadoras de dislexia

Diversas celebridades e cientistas renomados aprenderam a conviver com a dislexia e obtiveram grande sucesso em suas profissões. Veja abaixo 10 famosos que são portadores do transtorno:

1. Albert Einstein

O físico alemão, ganhador do prêmio Nobel de Física em 1921 foi portador de dislexia e obteve baixo rendimento escolar por conta do distúrbio.

2. Vicent Van Gogh

Segundo a ABD, Van Gogh foi um dos mais célebres pintores de todos os tempos, e contribuiu para o nascimento da arte cubista e surrealista. 

3. Steve Jobs

Fundador da Apple, Steve Jobs foi um dos maiores nomes da computação mundial e conviveu com a dislexia durante toda a sua vida.

4. Tom Cruise

Indicado para três Oscars ao longo de sua carreira, Tom Cruise conta que a dislexia quase pôs um fim prematuro a sua carreira como ator. Diagnosticado com a condição aos 7 anos de idade, Tom Cruise sofreu com dificuldades para ler até a sua vida adulta, até que encontrou o Study Technology - Tecnologia de Estudo, em português - um método de aprendizado desenvolvido por L. Ron Hubbard para alunos com dificuldade de compreensão.

5. Agatha Christie

 A própria escritora britânica, que sofria de problemas de aprendizado por conta da dislexia, afirmava que “escrita e ortografia sempre foram muito difíceis para mim.” Segundo Agatha, ela era péssima soletrando e tinha muita dificuldade em gravar números, mas nem por isso deixou de seguir seus sonhos em se tornar uma escritora.

Como lidar com a dislexia na educação infantil

Apesar de ser uma condição comum no Brasil, muitas escolas não possuem a estrutura necessária para acomodar alunos com dislexia ou profissionais capacitados para lidar com as necessidades dessas crianças, principalmente na rede pública de ensino.

Moretto explica que, para que os estudantes com dislexia possam obter sucesso na vida acadêmica, as instituições precisam estar preparadas. “A professora deve adaptar o material e todo o contexto pedagógico para a criança.”  

Mas como o material pode ser adaptado? A fonoaudióloga esclarece que cada criança é um contexto e uma história, mas, de modo geral, para que o aluno possa assimilar o conteúdo de maneira mais eficiente, todas as disciplinas devem ser transmitidas oralmente, visto que as crianças disléxicas têm dificuldade em ler, mas facilidade no ouvir.

Os mitos da dislexia

Conforme já dito anteriormente, crianças com dislexia possuem mais dificuldade no processo de alfabetização, como por exemplo na leitura e na escrita. Porém, muitas pessoas associam a com a falta de QI (Quociente de inteligência). Isso é um mito e existem muitos outros, como:

  • A dislexia pode ser diagnosticada em qualquer período da vida, não somente na infância;

  • Ao contrário do que muitos pensam, ela não é causada pela falta de leitura;

  • Ela não é uma doença, mas sim uma condição;

  • Nem toda criança que tem dificuldade em ler e escrever tem dislexia.

Ensino a distância e dislexia

O isolamento social tem sido um período desafiador para muitos pais, alunos e professores que estão tendo que se adaptar a um modelo de ensino pouco utilizado na educação básica, o EaD. 

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Se as aulas remotas já são complicadas para as crianças que não possuem dificuldades de aprendizagem, elas podem ser ainda mais problemáticas para os estudantes com dislexia. Pensando nisso, a Associação Brasileira de Dislexia preparou um e-book gratuito com orientações a pais de crianças portadoras do distúrbio para ajudar os filhos durante este período de ensino a distância. O conteúdo pode ser baixado aqui.

Como pudemos ver, a dislexia na educação infantil é mais comum do que parece, porém, é necessário que os pais, a instituição, os professores e profissionais especializados trabalhem em conjunto para garantir que os alunos com o transtorno se mantenham motivados e interessados em seguir seus estudos.

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