Panorama das aulas remotas na educação básica do Brasil

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Até o momento, não se sabe ao certo os reais impactos provocados pela pandemia na educação básica brasileira. Especialistas esperam que a volta às aulas e as avaliações diagnósticas possam dar uma visão mais clara sobre o desafio a ser enfrentado, principalmente em relação à aprendizagem e à evasão de alunos.



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“O dado de evasão prevista é muito preocupante e os professores reconhecem que isso é algo que foi agravado durante a pandemia por conta da falta de acesso à conectividade e à infraestrutura para as aulas remotas”, explica Lia Glaz, diretora de políticas educacionais no Instituto Península. “Não apenas por isso, também por conta do fato de ser difícil de criar estratégias que engajem os estudantes nesse processo mesmo quando há acesso.”


Todo ano, aproximadamente 4 em cada 10 jovens no Brasil desistem dos estudos para trabalhar, e o temor é que este número aumente ainda mais com a distância das escolas. Nesse contexto, Glaz afirma que a retomada do vínculo com a escola é essencial para amenizar a evasão, mesmo que seja no formato híbrido.


Considerando o cenário atual e os desafios presentes pela frente, se faz necessário analisar a qualidade das aulas remotas até então, e o que pode ser feito para garantir que o direito previsto na constituição brasileira às crianças e adolescentes seja, de fato, efetivado.


Panorama das aulas remotas na educação básica brasileira

Em março do ano passado o ensino remoto, já presente nas universidades brasileiras, se tornou também uma realidade na educação básica. Contudo, essa implementação não foi uma escolha, e sim uma mudança imposta pela pandemia de Covid-19.


Tal transição abrupta pegou as escolas e secretarias educacionais de surpresa, forçando-as a tomar medidas de urgência a fim de manter o processo de ensino-aprendizagem ativo, mesmo que por meio de materiais impressos, telefonemas e TV.

Glaz afirma que essa situação escancarou o abismo já existente no Brasil. “Em alguns lugares a gente teve mais infraestrutura e pôde contar com processos de sistemas de interação entre alunos e professores mais sofisticados, com internet e ambientes virtuais de aprendizagem”, revela a especialista. “Em lugares onde temos um pouco mais de precariedade, esse contato acabou se dando por meio de WhatsApp e até material impresso.” | + Apenas 56,6 das escolas brasileiras possuem acesso à rede de esgoto

A última edição da pesquisa TIC Educação, realizada pelo o Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), em 2019, aponta que quase 40% dos estudantes de escolas públicas urbanas não possuem computador ou tablet em casa. Já nas escolas particulares, o percentual é de 9%.

Com relação à conectividade, 21% dos alunos da rede pública só acessam a internet pelo celular. Na rede privada, o índice é de 3%.

Estratégias educacionais utilizadas pelos professores no ensino remoto

Ao longo do ano passado, organizações integrantes da Coalizão Aprendendo Sempre realizaram diversas pesquisas com familiares, alunos, professores e gestores a fim de entender os desafios enfrentados durante os diferentes estágios da pandemia. Entre os meses de abril e maio de 2020, a Fundação Carlos Chagas entrevistou 14 mil docentes das redes municipal, estadual e privada ao redor do Brasil sobre a realização das aulas remotas. 

Nas escolas públicas, o envio de materiais digitais via redes sociais foi a estratégia educacional mais utilizada. Já nas escolas particulares, as aulas ao vivo foram as principais ferramentas, conforme mostra o gráfico abaixo.

Infográfico mostra as estratégias educacionais utilizadas pelos professores das redes pública e privada durante o ensino remoto em 2020.


Quando questionados sobre a participação dos alunos nas atividades remotas, os professores da rede privada responderam que a grande maioria dos alunos realizaram os exercícios propostos (63%). Na rede municipal, o cenário foi o oposto; 28% dos docentes afirmaram que a minoria dos estudantes fez as atividades e 22% não soube informar se os jovens fizeram ou não as tarefas.

Aulas remotas: afinal, funciona ou não?

A principal dúvida dos familiares - e até dos próprios professores - com relação às aulas remotas é a real efetividade do formato na aprendizagem dos alunos.

De acordo com a pesquisa Sentimento e Percepção dos Professores Brasileiros nos Diferentes Estágios do Coronavírus no Brasil, realizada pelo Instituto Península com cerca de 3 mil professores das redes privada e pública, em novembro de 2020, 40% dos educadores concordam que os alunos estão evoluindo com o aprendizado em casa, percentual maior quando comparado à terceira fase do estudo, feita em agosto. Contudo, a percepção dos professores muda de acordo com a rede de ensino em que atuam.

Gráfico mostra a percepção dos professores com relação à aprendizagem dos alunos nas aulas remotas em 2020.


Com base nos dados obtidos na pesquisa, é possível notar que a percepção sobre a efetividade do ensino remoto é superior na rede privada (53%), versus 36% na rede pública estadual, e 38% na rede pública municipal. A diretora de políticas educacionais Lia Glaz, explica que apesar dos professores reconhecerem que a aula presencial tem um efeito melhor do que a aula a distância, o vínculo entre a escola e a criança, ainda que remoto, é essencial para que ela dê continuidade ao processo de aprendizagem. 


O futuro do ensino híbrido na Educação Básica

Outro ponto importante levantado na pesquisa foi a mudança na visão dos professores sobre o ensino remoto. “No começo da pandemia, a tecnologia era vista como algo que poderia substituir o professor”, afirma Glaz. Entretanto, após o período de adaptação no uso de ferramentas tecnológicas esse sentimento mudou, e hoje, muitos apontam que o ensino híbrido veio para alavancar a atuação dos docentes no aprendizado do aluno.


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“Houve uma quebra de paradigma no ano passado que a gente precisa aproveitar para tratar a tecnologia como um aliado, trazendo cada vez mais estratégias não de emergência, mas sim de construção das competências que são necessárias pro aluno e para o professor do século XXI”, explica a especialista.


Além disso, Glaz reforça a necessidade dos estados e secretarias municipais na implementação de ações para promover o acesso à internet, à conectividade e à infraestrutura necessária a fim de reduzir a desigualdade do ensino remoto no Brasil.

Escolas com aulas remotas perto da sua casa

Mesmo com o retorno das aulas presenciais em 2021, o ensino remoto ainda fará parte da nova rotina escolar até que a pandemia cesse. Neste cenário, a qualidade da aula online é fundamental para que o aprendizado e o desenvolvimento da criança seja maximizado. 

No portal do Melhor Escola, as famílias conseguem encontrar colégios bem avaliados por pais e ex-alunos que ofereçam aulas remotas.