Texto Rose Araujo.
Não adianta! Por mais boazinha que seja, a mãe acaba assumindo o estigma de “chata” em algum momento da vida dos pequenos. Seja porque está dando uma bronca ou porque está negando algo que ele quer muito fazer. “Desde o início da vida, a função dos pais é de orientação e acompanhamento. Sendo assim, nem sempre conseguirão oferecer aos seus filhos absoluta permanência de prazer em suas vidas, pois para o desenvolvimento de uma personalidade saudável, as frustrações farão parte do contexto de vida. Portanto, a forma como os pais, no caso em questão essencialmente as mães, agem darão margem a serem vistas como chatas. Para isto não há idade, pois as reações mesmo sem a verbalização poderão ser de negação”, explica a psicopedagoga Luciane Rodrigues.
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Mesmo sabendo que vai acabar sendo
tachada dessa forma, a mãe não pode abrir mão da educação do filho. É preciso
cobrar, estabelecer limites e mostrar caminhos que nem sempre condizem com o
que a criança espera. “Diálogo e ouvidoria sempre serão o melhor caminho e
exemplo, porém, repreender na ação educativa pode e deve acontecer. Evidenciar
o respeito é condição para que a criança e o adolescente compreendam que
conflitos existirão ao longo da vida e que são positivos desde que estes criem
significado em sua aprendizagem para a vida. No entanto, o que é perigoso é
quando se entra na esfera do que chamamos confronto”, salienta a profissional.
Controle exagerado
É preciso ficar atento, no entanto,
para não escorregar nas ordens e passar a controlar demais a vida do filho.
Limites precisam ser estabelecidos. Mas também é preciso boa dose de confiança
para deixar o pequeno se virar sozinho e amadurecer. “Os pais precisam estar
atentos às necessidades dos filhos e, com isso, apenas caminhar com eles, pois
sozinhos são capazes de evoluir e desenvolver a criatividade a partir deles
próprios. E isso não quer dizer que devam ser ausentes ou negligentes, pois
caminhar lado a lado não é sinônimo de ´caminhar por´ ou ´abrir mão de´”,
explica a psicóloga Cynthia Boscovich.
É sempre importante que os pais
façam uma autoavaliação constante para saber se não estão sendo muito rígidos
com os filhos, exagerando nas preocupações e pegando demais no pé de suas
crias. “Atitudes muitas vezes tornam-se viciosas e tendenciosas no sentido de
olhar para aquilo que possa ser inadequado ou inapropriado em um filho.
Deixa-se então de buscar virtudes e valores existentes no ser humano. É então
que acontecem os distanciamentos”, explica Luciane.
Para tentar entender o que se passa
nessas relações familiares, ouvimos quatro mães com filhos em idade
pré-adolescente ou adolescente, que é onde se concentram a maior parte dos
conflitos de educação. Leia os depoimentos e sinta-se acolhida nessa aventura
chamada maternidade.
“Cobro demais dele e tenho
consciência disso. Acredito que a meta de todos os pais é a mesma, educar para
criar um cidadão de bem. Queremos que nossos filhos se tornem pessoas
inteligentes, sociáveis, educadas, amorosas e, principalmente, com visão de
realidade. Depois dos confrontos, geralmente sou eu quem puxo conversa, pois
não consigo ficar muito tempo sem falar com ele, mas não acredito que isso seja
o ideal. Os pais também são vistos como chatos, mas como as mães geralmente
passam a maior parte do tempo com os filhos, então temos um tempo maior de
chatice!!!”, Elaine Cristina Delprá,
protética, mãe de Felipe Delprá Martin, 10 anos
“Eu sou a mãe mais chata que existe
no mundo, segundo a versão dele. E, para os adolescentes, a gente é chata em
todos os momentos. Tenho um adolescente "chato" de 14 anos. Acho que
boa parte da educação já foi realizada; todos os limites, imposições, o
certo/errado, o legal/pior, a base toda já foi dada. Agora é colher os frutos.
E essa é uma idade terrível, porque, ao mesmo tempo que os jovens sabem que os
pais querem o melhor, o instinto deles faz com que sempre intencionem subverter
essa ordem. Daí nos tornamos sempre ´os chatos´ pra eles. Em momentos de
tensão, o negócio é respirar fundo, contar até cinquenta e deixar quieto.
Evitar o enfrentamento, o que é muito difícil das duas partes. Porque logo
passa.. e ele age como se nada tivesse acontecido”, Luciandréa Pereira, secretária, mãe de Gabriel Pereira Feza, 14 anos
“Minha filha sempre costuma me
chamar de chata nos momentos de broncas. A educação está para um filho como a
raiz está para a árvore. Acredito muito no peso da educação para produzir
cidadãos mais conscientes e humanos ou mais ignorantes e frios. Por isso, acho
que educar é um processo longo e diário, que exige paciência e dedicação por
abranger desde coisas simples até as mais complexas, que nos exigem uma posição
e uma justificativa bem claras. Durante muito tempo observei que eu era muito
mais legal e flexível com as filhas das minhas amigas do que com minha própria
filha. Depois observei que isso acontece também com outras mães. Para mim,
pessoalmente, é muito difícil e desgastante porque me preocupo em ser agradável
e doce com as pessoas normalmente e com minha própria filha, me sinto obrigada
a mudar o tom de voz e a expressão do rosto. Por outro lado, quando olho ao meu
redor, inclusive em minha própria casa, vejo que pais mais linha dura são mais
respeitados e admirados. Seus filhos me parecem fortes e seguros em suas
decisões. Acho que ter pulso é importante e o erro está nos exageros”, Adriana Matiuzo, jornalista, mãe de Sofia Matiuzo, 10 anos
“Quando meu filho me considera
chata, eu penso que não consegui atingir meu objetivo, que é fazer chegar a
informação da forma como ela deveria. Corre o risco dele desmerecer. Acho que
as crianças estão mais críticas no geral e penso que isso é reflexo do
comportamento nosso. A condição de ´chata´ é para os adultos no geral:
professores, pai, mãe, etc.”, Claudia Geanfrancisco
Nucci, advogada, mãe de Matheus Geanfrancisco Nucci, 10 anos
Entrevistados:
Luciane Rodrigues, psicopedagoga do
Instituto da Infância
Cynthia Boscovich, psicóloga
clínica, psicanalista
Fonte: Artigo desenvolvido pelo projeto NA MOCHILA, que em parceria com as escolas oferece uma revista por bimestre aos pais de alunos do ensino Infantil e Fundamental I. Para saber mais sobre o projeto, clique aqui.