Setembro Amarelo - Depressão na adolescência: Entrevista com Letícia Napoli

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Setembro Amarelo - Depressão na adolescência: Case Letícia Napoli


Durante a adolescência, as pessoas se deparam com diversos desafios, novidades e dilemas, como aprender a lidar com a pressão, cobranças e mudanças em diversos aspectos da vida, além de ter que aprender a lidar com as próprias incertezas e conflitos e grande parte desses problemas está relacionado com o ambiente escolar. Esses fatores podem surtir efeitos colaterais e, infelizmente, um deles pode ser a depressão. Atualmente, a doença atinge 10% dos adolescentes segundo a Associação Brasileira de Psicanálise. 

Realizamos uma entrevista com a estudante de psicologia Leticia Napoli, ela teve depressão durante a adolescência e contou um pouco de sua história, além de pontuar aspectos importantes da depressão durante a fase escolar.


A história de Letícia


Aos 15 anos de idade, Leticia Napoli desenvolveu um quadro de depressão severa, e passou a praticar automutilação. A pressão escolar do início do ensino médio e um relacionamento abusivo estavam entre os motivos que causaram a doença. Hoje, ela cursa o 10º semestre de psicologia na Universidade Paulista - UNIP Sorocaba.

O início do ensino médio foi um período difícil de sua vida. Letícia conta que sempre teve uma vida normal, mas durante essa fase passou a sentir um vazio existencial e não tinha ânimo para realizar as suas atividades, como as aulas de inglês e teatro. Nesse momento, a estudante realizou diversas tentativas de suicídio, utilizando lâminas de aço e facas para realizar automutilação nos pulsos.

Em momentos de crise, ela conta que chegava a se ferir através de arranhões e mordidas, e que na escola se dirigia até o banheiro para chorar e se machucar.

Seus amigos perceberam que Letícia estava passando por um período difícil e a pressionaram para que ela procurasse ajuda de sua família. Apesar do medo e da vergonha, ela contou aos pais o que estava se passando e imediatamente eles procuraram ajuda médica. 

Leticia ficou surpresa ao receber o diagnóstico de depressão severa, uma vez que sempre fora uma pessoa alegre. Ela foi medicada e conta que os remédios provocavam diversos efeitos colaterais como enjoos e ganho de peso.

Atualmente, com a doença controlada, Letícia está cursando o último ano de psicologia. Ela afirma que ainda passa por acompanhamento psicológico semanalmente e pontua que “não é necessário passar por um trauma para fazer terapia”.


Perguntas e respostas


Você teve algum suporte dado pela escola que você estudava?

Letícia conta que estudou em duas escolas durante o período em que teve depressão. A primeira escola lhe ofereceu um grande suporte e ela acredita que seja pelo fato de sempre ter estudado lá e ter um vínculo com os funcionários. Os inspetores a ajudaram em momentos de crise, mas a escola não contava com uma psicóloga. Na metade do ensino médio, ela mudou de escola, por motivos de amizade, além de sentir que a antiga escola não lhe fazia bem. A segunda escola providenciava uma psicóloga, “o suporte que ela oferecia era bom, mas acredito que ela sozinha não dava conta de atender todos os alunos com dificuldades”.


Você sente que as escolas estão preparadas para ajudar uma pessoa que está passando por depressão?

Ela acredita que a maioria das escolas não estão preparadas para lidar com esse problema, afirma que a psicologia no âmbito escolar é pouco explorada e o amparo a pessoas com transtornos mentais como a depressão é baixo. Ela diz que ”esse tipo de transtorno que pode levar ao suicídio ainda continua sendo um tabu, embora tenha sido muito falado sobre isso.” 

Letícia sugere para que as escolas demonstrem acolhimento, mostrando que estão abertos para conversar, pois as pessoas que passam por essa situação não se sentem seguras, tem dificuldades em confiar nas pessoas e sentem que estão atrapalhando, principalmente para os adolescentes. Ressalta que é importante que quando houver um caso como esse nas escolas é importante que o corpo docente da escola esteja sabendo para saberem como agir. “O psicólogo nas escolas tem N maneiras de atuar e uma delas é no acolhimento e auxílio dos alunos que tem um tipo de sofrimento como esse”, aponta ela. A estudante também diz que a primeira coisa que a escola deve fazer é entrar em contato com os pais, deixá-los cientes, pois a principal responsabilidade para cuidar desses problemas não é da escola, e sim dos pais.


Você teve medo de contar o que estava passando para professores, coordenadores, diretores ou outros colaboradores?

“Sim, com certeza. É uma situação em que você se sente envergonhado e culpado por estar passando por aquilo” - afirmou. Letícia conta que foram os pais que entraram em contato com os professores e coordenadores para explicar sua situação. “Não é fácil se expor dessa forma e mostrar sua vulnerabilidade” - conclui ela.


O que não se deve falar para um colega que está com depressão?

“Uma das coisas que mais machucam é quando as pessoas falam que é ‘frescura’. As pessoas costumam dizer que existem dores maiores que outras e isso não é verdade. Cada um sabe a dor que carrega. É muito triste ouvir de alguém que você ama que aquilo que você está passando é frescura, já vai passar ou é coisa da sua cabeça”. Letícia afirma que realmente é difícil entender o que uma pessoa com depressão está passando, mas o que os colegas ou pessoas a volta devem fazer é demonstrar apoio.

Nem sempre é necessário dar conselhos ou dizer que vai passar, e também não é necessário fazer questionários, querer saber o porquê das coisas. Às vezes só é preciso se mostrar presente e dar apoio. Palavras como ‘eu te amo’ e ‘estou aqui por você’ ajudam muito” - concluiu Leticia.


Qual a melhor maneira de agir com essa situação?

Para Letícia, é fundamental demonstrar apoio: “É importante se fazer presente, e mostrar que está lá pra ela. Pessoas com depressão acreditam que são um fardo para aqueles que convivem com eles. Por isso, é fundamental fazer demonstrações de carinho”


Sua família e escola trabalharam em conjunto para te ajudar?

“Sim. Trabalharam no sentido de a escola dar notícias sobre mim, a minha família também se comunicava com a escola. Se eu tivesse uma crise, por exemplo, a escola me liberava e eles estavam sabendo de toda essa situação”, conta ela.

No entanto, a estudante diz que em muitos casos isso não acontece por falta de colaboração dos pais ou da escola. Leticia pontua que muitos não dão atenção para esse aspecto e atribuem os sintomas à idade, que apesar de ser um período difícil, merece atenção. 


O que os pais e a escola podem fazer

O vínculo entre os pais e as escolas deve ser forte, sendo a comunicação o ponto chave para obter sucesso e o equilíbrio no combate a depressão. Por meio de um bom diálogo é possível obter maior controle da situação e bem-estar do aluno. 

É importante que a escola possua um bom programa de apoio à esses estudantes. Desde conversas e dinâmicas à respeito do tema em sala de aula até a profissionais que possam auxiliar os alunos que passarem por dificuldades. Saiba mais em “O Papel do Gestor Escolar na Prevenção do Suicídio” e “O Papel do Pedagogo na Prevenção contra o Suicídio”.

Os pais devem se manter atentos ao comportamento dos adolescentes, procurar acompanhamento médico se perceberem sinais da doença e informar a escola caso possuam um filho esse tipo de transtorno mental. 


Veja também:  Suicídio - Sinais de Alerta Para os Pais.