A seletividade alimentar pode fazer algumas crianças serem taxadas como “chatas para comer”, porém, esse comportamento pode estar relacionado a um problema ainda mais sério.
Ela pode aparecer nos primeiros meses de vida e, se não tratada, acompanhará esse indivíduo até a fase adulta. Você sabia que a seletividade alimentar infantil pode impactar a saúde e o desenvolvimento do seu filho?
Mais do que uma “birra” na hora das refeições, esse comportamento pode indicar um distúrbio. Sem o tratamento adequado, pode afetar a relação da criança com a comida e até mesmo o seu desenvolvimento físico e emocional.
Neste artigo, explicamos o que é seletividade alimentar e como ajudar a criança a criar uma relação melhor com os alimentos.
Nesse artigo você irá ver:
O que é seletividade alimentar?
O que a seletividade alimentar pode causar?
Quem tem seletividade alimentar tem autismo?
O que fazer quando a criança tem muita seletividade alimentar?
10 dicas para lidar com seletividade alimentar infantil
O que é seletividade alimentar?
A recusa constante na hora das refeições, principalmente com comidas específicas, é a característica principal da seletividade alimentar. Outros pontos importantes para se observar são:
Não querer experimentar novos alimentos;
Preferência exclusiva por alguns tipos de comida;
Falta de apetite;
Desinteresse por refeições;
Seleção de alimentos por coisas como cor, textura ou marca.
Apesar de poder ser um comportamento típico ali na fase pré-escolar, é preciso estar atento aos fatores que podem intensificar esse “comportamento comum”.
Um ambiente familiar conturbado, problemas socioemocionais, bullying, falta de rotina alimentar e exemplos negativos, como adultos que também não “comem de tudo”, podem ser fatores influentes no comportamento atípico em relação à comida.
O que a seletividade alimentar pode causar?
Impactos nutricionais e de crescimento: a criança pode não obter os nutrientes necessários, afetando o desenvolvimento físico e cognitivo.
Preferência por dieta monótona: As escolhas alimentares ficam restritas, limitando a variedade de sabores e texturas na dieta.
Rejeição de alimentos e da família: muitas vezes, a criança não acompanha a refeição familiar e pode desenvolver uma relação complicada com a comida e um afastamento das relações em casa.
Seleção baseada em sensibilidade: a escolha dos alimentos pode depender da cor, temperatura, textura ou até marca.
Aversão a novos sabores: a criança mostra pouca disposição para experimentar comidas novas, o que dificulta a criação de uma dieta equilibrada.
Exclusão dos ciclos sociais: na relação com outras pessoas, a seletividade alimentar pode limitar os espaços em que essa criança estará confortável e a convivência com os colegas.
Quem tem seletividade alimentar tem autismo?
Nem todo mundo que tem seletividade alimentar tem autismo, e vice-versa. Apesar desse distúrbio alimentar ser considerado um sintoma comum ao Transtorno do Espectro Autista (TEA), ele não é exclusivo.
A seletividade alimentar, dentro do TEA, está associada às dificuldades sensoriais e à inflexibilidade mental das pessoas com autismo, o que faz com que a criança aja com resistência.
Existem autistas que comem pouquíssimos alimentos ou, até mesmo, uma única opção de comida. Eles acabam lidando com uma recusa constante de experimentar algo novo, além da resistência em quebrar o padrão rotineiro.
Porém, apenas a seletividade alimentar não é fator decisório para diagnóstico. Além de ser um problema que pode atingir qualquer pessoa, existe uma gama de considerações e análises, que demandam um profissional, para a obtenção de um laudo.
O que fazer quando a criança tem muita seletividade alimentar?
É normal a criança não gostar de um ou outro alimento, porém, quando ela não se sente confortável em relação a determinadas comidas, é importante investigar o motivo.
Rejeição a alimentos do “dia-a-dia brasileiro”, como arroz e feijão, ou que são mais “neutros” e “comuns”, como macarrão, devem receber mais atenção. Afinal, até nós adultos não gostamos de tudo sempre.
O “regionalismo” pode ser um fator muito decisivo também. Por exemplo, alimentos consumidos no Nordeste não necessariamente vão agradar uma criança do sul.
É importante investigar o distúrbio desde cedo, para que não haja comprometimento no desenvolvimento e não gere problemas no futuro.
Além do apoio do pediatra, geralmente é feito um tratamento multidisciplinar, com a atuação de um psicólogo e nutricionista.
Em conjunto, é importante que esse indivíduo conviva em um ambiente familiar harmonioso, onde seja capaz de realizar as refeições com tranquilidade e que suas limitações sejam acolhidas.
10 dicas para lidar com seletividade alimentar infantil
1. Evite pressão na hora das refeições
Não force a criança a comer! lembre-se de que pode ser necessário tempo para que ela aceite novas estratégias e alimentos.
2. Mantenha a paciência e evite chantagens
Durante as refeições, tenha calma! Evite chantagens do tipo "se você comer tudo, pode brincar até tarde". Essa abordagem pode gerar associações negativas com a alimentação.
3. Estimule um diálogo positivo
Comentários negativos não ajudam. Em vez disso, converse com a criança e entenda o motivo da rejeição a certos alimentos. Trabalhar junto com ela nessa descoberta pode ser mais eficaz.
4. Apresente os alimentos aos poucos:
Para os mais novos, aproxime os alimentos de forma gradual. Deixe à vista, no alcance das mãos, para que a criança comece a desenvolver curiosidade natural sobre eles.
5. Ofereça variedades semelhantes ao que ela gosta
Para aumentar a aceitação, tente oferecer alimentos que sejam parecidos com o que a criança já gosta, considerando aspectos como textura, cor e sabor.
6. Introduza novos alimentos aos poucos
Evite sobrecarregar a criança com muitos alimentos novos de uma vez. Permita que ela experimente conforme sua curiosidade e desejo.
7. Evite substituir refeições principais por lanches
Não substitua refeições como almoço e jantar por lanchinhos apenas para evitar conflitos. Incentive a criança a experimentar pratos nutritivos em horários regulares.
8. Use utensílios divertidos e atraentes
Pratos, garfos e colheres coloridos, especialmente com personagens que a criança gosta, podem tornar a refeição mais interessante e incentivar a experimentação.
9. Envolva a criança
Deixe a criança participar do preparo das refeições e dê espaço para ela sugerir receitas ou ideias de pratos, inclusive da montagem. Esse envolvimento pode aumentar o interesse dela pelos alimentos.
10. Crie atividades lúdicas sobre comida
Faça brincadeiras para adivinhar texturas e sabores, leia histórias sobre alimentação ou assista filmes que abordam o tema. Essas atividades ajudam a criança a ver a comida de forma mais positiva e divertida.
Em casos de seletividade alimentar associada ao autismo, recomenda-se a busca por outras orientações de especialistas da área, principalmente o médico responsável pelo acompanhamento da criança.
Como saber se a criança tem seletividade alimentar?
A seletividade alimentar infantil é diagnosticada pelo pediatra da criança, mas é possível observar os sinais deste distúrbio em casa.
Para te ajudar, trouxemos alguns comportamentos da criança para você observar:
Redução no apetite;
Desinteresse pelos alimentos, tanto novos quanto aqueles que a criança já comia;
Recusa na hora da refeição;
Brincar demais com a comida e, no fim, não comer;
Agitação no momento em que está comendo, podendo estar acompanhada de irritabilidade.
O que causa seletividade alimentar
Traumas: podem ou não serem relacionados à comida, mas é importante considerar momentos de estresse e ansiedade que a criança teve ao longo da vida;
Associações: imagine que na primeira vez que a criança experimentou determinada comida aconteceu uma situação muito ruim ou o gosto não estava bom. A visão sobre esse alimento vai ser negativa, mas pode ser mudada;
Fase do desenvolvimento: a introdução alimentar é um momento crucial para o desenvolvimento dos hábitos alimentares e paladar da criança;
Hábitos alimentares da família: o que é consumido em casa vai ter influência direta nos costumes da criança. Muito fast food ou dificultar a presença de alimentos saudáveis são exemplos de facilitadores do distúrbio alimentar;
Autismo: devido às condições englobadas no TEA, pode haver resistência no consumo de alguns alimentos e até de marcas e receitas que “mudaram”.
A seletividade alimentar pode ser um desafio, mas com o apoio certo, é possível ajudar seu filho a desenvolver uma relação mais saudável com a comida.
Observe os sinais, converse com o pediatra e considere o apoio de nutricionistas e psicólogos para uma abordagem mais completa.