Por Marisa
Sei/Revista NA MOCHILA.
Você é o tipo de mãe ou de pai que
não pode ver o filho resfriado e já corre para a farmácia comprar um remedinho?
Nos pequenos, as consequências da medicação sem orientação médica ou em excesso
podem ser ainda mais graves do que em adultos. Como, infelizmente, a
automedicação é um hábito comum para os adultos e, por acharem que já conhecem
os sintomas e os remédios necessários para amenizá-los, costumam também
diagnosticar a doença das crianças e medicá-las sem antes consultar um
especialista. “Muitos remédios não foram estudados em crianças e há muitas
particularidades nessa faixa etária que devem ser consideradas. Até por essas
particularidades, existe a figura do médico pediatra que é treinado para o
atendimento de crianças”, salienta o clínico geral Paulo Camiz.
Ou seja, vale sempre repetir o alerta: nunca se automedicar e muito menos dar remédios às crianças sem prescrição médica. “Nenhum medicamento deve ser usado sem prescrição, pois não existe medicamento sem possíveis efeitos colaterais. O médico vai indicar a quantidade a ser utilizada conforme as características do paciente”, avisa a endocrinologista Rosita Fontes.
Possíveis efeitos
Quando usados corretamente, os
medicamentos aliviam os sintomas e tratam a doença, mas em excesso ou na hora
errada, podem agravar o problema e causar outros. Confira o que o exagero de
alguns remédios pode causar:
•
Antibióticos – Um estudo da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos,
mostrou que o uso de antibióticos antes dos 6 meses de idade propicia um maior
acúmulo de gordura corporal anos depois. A explicação seria que o remédio
altera a flora intestinal, fazendo o corpo aproveitar mais as calorias dos
alimentos, além de favorecer a proliferação de bactérias que fazem o organismo
reduzir o gasto energético. Segundo a pesquisa, o excesso de antibióticos pode
levar a criança ao excesso de peso.
• Antiácidos
– “Aqueles que agem localmente, diminuindo a acidez, como o hidróxido de
alumínio, têm entre seus principais efeitos colaterais o risco de
hipofosfatemia, que por sua vez, leva a inúmeros problemas de saúde”, informa
Rosita. A hipofosfatemia se caracteriza pela falta de fósforo no sangue e pode
provocar fraqueza muscular entre outros problemas.
• Anti-inflamatórios
– “Podem ser tóxicos para os rins, para o estômago e podem causar problemas de
coagulação”, revela Camiz.
•
Analgésicos – O paracetamol é um exemplo de analgésico e antitérmico bastante
usado e que está presente em muitos antigripais. Em excesso, pode causar lesões
irreversíveis no fígado. “Os antigripais são combinações de vários
medicamentos, como analgésico, antitérmico, descongestionante nasal e
anti-histamínico. Os descongestionantes podem piorar ou causar a hipertensão em
predispostos, e os anti-histamínicos costumam dar sono e diminuir a atenção”,
explica a endocrinologista.
Hora do remedinho
O primeiro e mais importante alerta
no momento de oferecer um medicamento à criança é: sem prescrição, não. “O
médico sabe dos riscos e é treinado para saber pesá-los em favor dos
benefícios”, diz Camiz. Portanto, na presença de qualquer sintoma de problema,
mesmo um resfriado ou uma azia, procure a ajuda de um pediatra. Veja outras
dicas para não transformar o remédio em vilão:
- Quando receber a receita do
médico, certifique-se de que entendeu todas as recomendações e não hesite em
perguntar.
- Leia a bula. O remédio deve ser
pediátrico ou a dose deve ser específica para crianças.
- Não abandone o tratamento
medicamentoso antes do tempo indicado só porque a criança apresentou melhoras.
- Lembre-se de que são os adultos
quem têm a responsabilidade de dar o remédio aos pequenos, portanto, respeite
os horários.
- Guarde todos os medicamentos
longe do alcance das crianças.
- Caso observe alguma reação ao
remédio, consulte o pediatra.
Os mais vendidos
No ano 2000, foram vendidas 71 mil
caixas do medicamento metilfenidato, de nome comercial Ritalina, usado para
tratar Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Em 2008, as
vendas chegaram a 1,14 milhão de caixas, representando um aumento de 1.616%. Os
dados são do Instituto Brasileiro de Defesa dos Usuários de Medicamentos (Idum)
e não é possível saber com precisão quantos foram usados para crianças com
TDAH, adultos, para tratar outros problemas e até prescritos de forma
inadequada. Mas já dá para perceber que a Ritalina é um dos medicamentos usados
com excesso no Brasil, apesar de ser “tarja preta”, ou seja, só pode ser
adquirido com receita médica e pode apresentar graves efeitos colaterais. Sua indicação
é alvo de discussões médicas em torno da real necessidade do uso, já que se
supõe que muitas crianças diagnosticadas com TDAH têm apenas desvios normais de
atenção.
E o consumo excessivo também
acontece quando há problemas mais simples, com medicamentos fáceis de serem
adquiridos. Segundo uma pesquisa feita pela IMS Health e pela Associação
Brasileira de Medicamentos Isentos de Prescrição, entre os remédios mais
vendidos nas farmácias brasileiras de 2011 a 2012, estão o descongestionante
nasal Neosoro, o analgésico e antitérmico Dipirona sódica e o anticonvulsivante
Rivotril. Entre os mais vendidos sem prescrição médica, estão os analgésicos
Dorflex e Neosaldina, o antigripal Benegrip e o multivitamínico Targifor C.
Entrevistados:
Rosita Fontes é endocrinologista do laboratório Sérgio
Franco de Medicina Diagnóstica, no Rio de Janeiro (RJ)
Paulo Camiz é clínico geral e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)
Fonte: Artigo desenvolvido pelo projeto NA MOCHILA, que em parceria com as escolas oferece uma revista por bimestre aos pais de alunos do ensino Infantil e Fundamental I.