Por Lucy De
Miguel/Revista NA MOCHILA.
Todo mundo acha que tem educação. Chamar alguém de “sem-educação”
é uma ofensa imensa, quase um palavrão. Porém, educação são valores ensinados
em casa, são as atitudes dos pais observadas e seguidas pelas crianças que vão
construir a cidadania dos pequenos. Mas se observarmos bem, o tempo inteiro nos
deparamos com situações de pessoas, digamos “sem noção”. Você sai para fazer
uma caminhada pela manhã, em um parque da cidade, e tem que olhar bem por onde
pisa, com o risco de o seu tênis virar um “carimbador fedorento”, por conta dos
cocôs de cachorros que os donos não se preocupam em recolher.
E sempre tem um “porcão” no carro da frente que atira lixo pela
janela, quando não a latinha vazia, que quase acerta o seu para-brisa. Vale
ressaltar os que furam fila, as pessoas que se “fingem” de bobas nos acentos
reservados dos ônibus e metrô, daqueles que deixam o carrinho do supermercado
nas vagas dos carros e uma infinidade de outras atitudes que dificultam a nossa
vida. São ações cotidianas que, muitas vezes, são copiadas dos próprios pais.
De acordo com Dalva Aleixo Dias, mestre em Ciências Sociais, “os
pais têm que dar exemplos positivos em casa porque são a primeira e a principal
referência para a formação das crianças, até porque os conhecimentos na
infância são apreendidos pela reprodução do que se observa”.
A pesquisadora explica que atitudes gentis ocupam um lugar
secundário na sociedade atual. “Em uma sociedade competitiva há pouco espaço
para cooperar e muito para competir. E então prevalece a justificativa de que
os fins justificam os meios”, argumenta. “Mesmo na contramão, continuo
acreditando que existe espaço para o trabalho das pessoas solidárias e éticas,
pois na prática o mundo tem evoluído neste sentido. Assim, ensinar os filhos a
trabalhar em equipe e a conviver com respeito às diferenças é uma forma de
prepará-los para uma sociedade mais ética e próspera”.
E para ver a opinião dos pais quanto ao tema das gentilezas,
quatro famílias contam como o exemplo que as crianças encontram em casa acaba
refletido nas atitudes com os colegas e na sociedade.
Na fila do
supermercado
"Estávamos todos no mercado e acabei me separando das meninas
para ir adiantando as coisas no caixa. Cheguei com o carrinho cheio de compras
e fiquei na fila. De repente, uma moça aparece atrás de mim com poucos
produtos. Observo e logo na sequência chega mais uma moça em situação parecida.
Ofereci para elas passarem na frente. Aceitaram e ficaram espantadas. Em
seguida chegou a minha turma. Eu não comentei o fato, pois é algo que faço
sempre. Mas as moças comentam e me elogiam para minha esposa e
filhas. Valeu pela gentileza, pelos elogios e por ter dado um exemplo para
as meninas. Espero que elas enxerguem as pessoas como colegas, sempre!” Paulo Lisboa e a esposa Vanessa, pais de Helena (10 anos) e Gabriela
(5 anos)
Respeito às
diferenças
“Educar é um verbo tão importante, mas exemplificar a educação é
mais importante ainda. Eu e meu filho estamos sempre muito próximos, e sempre
percebo que ele repete as minhas atitudes, como não jogar lixo pela janela do
carro, fechar a torneira da pia enquanto escova os dentes, separar as
embalagens plásticas num lixo à parte para reciclar... A criança aprende com a
prática muito mais do que com longos discurso do que é certo ou errado. Outro
exemplo que procuro dar a ele é o quanto o esporte é bom para a saúde e para a
mente. E, principalmente, mostro a importância de se respeitar as diferenças,
uma vez que nós dois torcemos para times de futebol diferentes! ” Érica Regina, mãe de José Vitor (10 anos)
Fazer o bem
“Antes de me formar como Assistente Social, eu já fazia trabalhos
voluntários e sempre achei importante passar isso para as minhas filhas, que me
ajudavam a montar os saquinhos de doces e a embrulhar os presentes para as
festinhas que fazíamos nas instituições. Depois me envolvi mais com o trabalho
com idosos e lá estavam as duas participando e ajudando. Já fizemos chá da
tarde, festa de Natal, de Carnaval, Homenagem de Dia das Mães e Dia dos Pais
com direito a serenata e tudo na Vila dos Velhinhos. E são os exemplos do nosso
dia a dia, como cuidar dos animais, jogar lixo no lugar certo, respeitar os
mais velhos, não deixar o carrinho de compras em vagas de carro etc., que vão
fazer dos nossos filhos cidadãos melhores. ” Luciana Mira, mãe de
Julia (15 anos) e Luiza (13 anos)
“Minha família segue um lema: praticar o bem para que tenhamos um
mundo melhor. Seguimos a regra do ‘não faça para os outros o que não gostaria
que fizessem com você’. A Gabi, por exemplo, é responsável por recolher o cocô
da nossa cachorrinha Kiara quando a levamos para passear no condomínio. Todo o
nosso lixo é separado para a reciclagem, inclusive o lixo que acabamos
acumulando no carro nunca vai para a rua. É proibido jogar pela janela. Quando
nos deparamos com esta situação em outros veículos, conversamos sobre o assunto
e enfatizamos o quanto esta atitude é prejudicial à natureza. Afinal são
pequenos atos em nosso cotidiano que fazem a diferença para um mundo melhor. ” Luciana Bergamasco
Cardoso, mãe de Gabriela (9 anos) e Vinícius (4 anos)
Dê o exemplo para
as crianças...
- Nunca jogue lixo nas ruas;
- Ensine seu filho a respeitar filas e a esperar a sua vez;
- No trânsito, tenha paciência e não ofenda outros motoristas,
mesmo os que estiverem errados;
- Ensine as crianças a reciclar o lixo dentro de casa;
- Economize água (na hora do banho, de escovar os dentes, para
lavar a louça etc.);
- Mostre respeito e educação com as pessoas mais velhas;
- Carregue sacolas plásticas quando levar o cachorro para passear
(e use-as!);
- Segure a porta aberta para um estranho passar;
- Elogie a criança quando a vir ajudando alguém;
- Ajude amigos ou mesmo desconhecidos a carregar sacolas;
- Cumprimente as pessoas no elevador, no trabalho, no condomínio –
mesmo as que não conhece.
Você sabia...
... que a espécie humana só evoluiu por conta das gentilezas? Um
pesquisador americano, chamado Sam Bowles, estudou as sociedades antigas e
verificou que a gentileza era componente fundamental da sobrevivência das
comunidades. As mais evoluídas tinham um grupo maior de pessoas altruístas.
... que ser gentil faz bem à saúde? Um estudo com 2.016
frequentadores de igrejas nos Estados Unidos verificou que os que ajudavam os
outros regularmente tinham mais saúde mental e menos depressão.
... que ser gentil dá prazer? Pesquisa realizada pela Universidade
Hebraica, em Israel, descobriu um vínculo entre a bondade e o gene que libera a
dopamina, neurotransmissor que proporciona bem-estar.
Para assistir (e
refletir)
Dedique umas horas com as crianças para ver o filme “A Corrente do
Bem”, com Kevin Spacey, Helen Hunt e Haley Joel Osment. A película é antiguinha
(de 2000), mas o tema é super atual. Vale a pena!
Entrevistada
Dalva Aleixo Dias é mestre em Ciências da Comunicação
pela Universidade de São Paulo e doutoranda em Ciências da Informação na
Universidade de La Laguna – Espanha.
Fonte: Artigo
desenvolvido pelo projeto NA MOCHILA, que em parceria com as escolas oferece
uma revista por bimestre aos pais de alunos do ensino Infantil e Fundamental I.
Para saber mais sobre o projeto, clique aqui.