Boa mãe ou profissional de sucesso?

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Por Rose Araujo/Revista NA MOCHILA.

Trocar uma carreira bem-sucedida por um trabalho mais light, mas que proporcione momentos de sobra com as crianças. Esse tem sido o sonho de algumas mulheres modernas e descoladas. Depois de conseguir o tão desejado espaço no mercado de trabalho, com sucesso e boa remuneração, as mães atuais querem mais é largar tudo para aumentar a convivência com os pequenos.

“Eu cheguei ao ápice do consumismo. Empregada, babá, carro zero, pacote máximo de canais a cabo, plano de saúde mais caro, cartão de crédito exorbitante em restaurantes chiques e caros, roupas finas de lindas lojas de shopping. Pra que? Nada disso me garantiu a tal da felicidade que eu achei que viria com todas essas coisas materiais. De que adianta ter um carro cheirando a novo se não tenho tempo de passear com meus filhos dentro dele? De que adianta ter 456 canais de TV se não posso assistir ao que quero, pois vivo cansada de tanto trabalhar? ”, questiona a jornalista e relações públicas Glauciana Nunes, mãe de Eduardo, 5 anos, e Luca, 3.

Quantas mulheres não estão se fazendo a mesma pergunta agora? A falta de tempo para conviver com as crianças torna a maternidade uma função vazia, sem muito sentido. “Eu cheguei à conclusão de que não dava para seguir em frente levando a minha vida nessa roda que chamo de ‘negligência materna’. Pra mim, não dá pra ser mãe e desempenhar bem este papel, que é único e intransferível, estando com os filhos apenas duas horas por dia, enquanto eles estão acordados”, destaca.

Glauciana trabalhou duro para conquistar o sucesso profissional. Fez duas faculdades, cursos de especialização e idiomas. Sempre conciliando os estudos com as gestações, o casamento, filhos pequenos e tudo isso sem família por perto.

Ela sempre conseguiu se virar bem, mas hoje busca um novo horizonte na vida. Está prestes a trocar todas essas conquistas por uma casinha na beira da praia, uma bicicleta e tempo de sobra para ficar com os pequenos.


A culpa é da culpa

A psicóloga Roberta Borges explica que as mulheres, embora tenham obtido muitas conquistas na vida, ainda não conseguem se livrar dessa companheira chamada “culpa”. “A culpa anda junto com a mãe, mesmo aquela que está 100% do tempo com o filho, pois acha que poderia fazer mais e mais. O importante é procurar entender que o fato de trabalhar fora não é só necessário para o orçamento familiar, mas também para a realização profissional. E uma mãe e/ou pai realizado, mesmo que cansado, é uma pessoa muito mais feliz e disponível para toda e qualquer situação, pois está bem consigo mesmo”, explica.

Para ela, os pais que precisam se ausentar longas horas todos os dias e passam pouco tempo com as crianças precisam valorizar as horas de convívio e se entregar para valer à relação com os pequenos. “Se você tem 3 ou 4 horas para ficar com seus filhos, o importante é que fique intensamente e a troca seja verdadeira. Que ambos estejam de verdade na relação. Neste momento, brinquem juntos, conversem, façam lição de casa, troquem experiência, saiba como foi o dia do filho e conte como foi o seu. Desenvolva uma relação verdadeira e intensa, não só de corpo presente, usando o celular, computador”, frisa a psicóloga.

Nem todas as mães estão abertas a mudanças tão radicais quanto a que fará Glauciana. Mas se a ideia é ter mais convivência com os filhos, pequenas atitudes podem ajudar. A secretária Ana Cristina Gomes Oliveira, que trabalha em horário comercial, investe na hora do almoço para ficar com o filho, Renato, 7 anos.

O menino estuda de manhã e, à tarde, vai para outra escola, onde faz a tarefa, pratica esportes e faz inglês enquanto os pais estão no trabalho. “Para o ano que vem, eu tinha a opção de colocá-lo em uma única escola, em período integral.

Assim, não precisaria sair correndo do trabalho na hora do almoço e buscá-lo para almoçar em casa. Ah, mas esse momento é tão valioso! Aproveitamos para conversar no carro, no trajeto da escola até em casa. Ele almoça comigo, descansa um pouquinho e, depois, volta para as atividades da tarde enquanto eu retorno ao trabalho. É corrido para mim, mas prefiro não abrir mão desse contato”, explica.

Roberta salienta que esse tempo de qualidade é imprescindível. “O tempo dispensado para a criança, no qual a atenção e o foco estão voltados para ela, nutre o amor e a troca entre pais e filhos e assim possibilita a troca necessária para um crescimento saudável.”


Mãe de fim de semana

“O que eu queria mesmo era poder acordar ele todos os dias, fazer seu almoço, levantá-lo ao cair no chão, dar banho mais cedo, colocar uma rotina nos seus horários, poder criar atividades com ele. Claro que faço tudo isso, mas não tanto como gostaria (queria fazer muito mais). Às vezes, me acho uma mãe de fim de semana”, diz a técnica de segurança no trabalho Susan Braga de Souza, mãe de Davi, 2 anos.

Ela trabalha em horário comercial e o filho fica com sua mãe todos os dias. Ela sai de casa com o coração na mão, principalmente quando ele acorda e a vê partir. “As manhãs mais difíceis são aquelas em que ele acorda bem na hora de sairmos e chora pedindo para que eu não vá embora”, relata.

O pouco tempo disponível com o filho ainda precisa ser dividido com os afazeres domésticos. Nessas horas, entra em cena o superpai! Com a ajuda do marido, Gabriel, Susan consegue trocar as funções e se revezar nos cuidados e atenção com o filho. “Quando o tempo está mais escasso, nos dividimos: enquanto eu fico com o filhote, o pai aproveita para lavar a roupa; depois é a vez de ele ficar com o pequeno para que eu possa fazer outras coisas. ”

Susan está se programando para mudar sua vida profissional e, assim, conseguir mais tempo para Davi. “Meu sonho é poder trabalhar pra mim, em casa, com ele, tendo flexibilidade de horário (acho que é o sonho de toda mãe). Para conseguir isso, estou com trabalho extra. Já dei o pontapé inicial, estou tentando conciliar as duas coisas agora, até que um dia consiga ter uma pequena estabilidade e largar o trabalho de fora. Porém, sei que não é tão simples assim. ”

Glauciana, embora esteja sonhando com um cotidiano menos estressante ao lado dos filhos, também sabe que problemas poderão surgir. “Eu imagino que talvez seja difícil, bata o cansaço, não terei ajuda nenhuma, terei que dar conta de duas crianças, de uma casa e do meu trabalho, mas estou indo feliz pra essa nova vida que escolhi. Se não der certo, a gente muda a rota até tudo ficar bem bonito. Quando penso nessa nova proposta de vida, meu coração se enche de alegria e automaticamente um sorriso brota em meu rosto”, suspira.


Educação sempre!

Uma das funções de pais que não podem ser esquecidas durante as horas com o filho é a educação. Roberta Borges lembra que deixar de repreender ou ensinar só para não “estragar” os momentos de convivência pode trazer consequências graves para a formação da criança. “O importante é participar da vida dos filhos e, assim, conhecer e interagir com o que está acontecendo sem culpa. E, quando necessário, repreender e dar limite, pois essa também é uma forma de amar. Para os filhos crescerem saudáveis, tanto física quanto emocionalmente, é necessário sim, colocar limites sempre que necessário”.



Entrevistada

Roberta Borges, psicóloga



Fonte: Artigo desenvolvido pelo projeto NA MOCHILA, que em parceria com as escolas oferece uma revista por bimestre aos pais de alunos do ensino Infantil e Fundamental I. Para saber mais sobre o projeto, clique aqui.