Enquanto o mundo se tranca em casa frente às ameaças já confirmadas da pandemia de coronavírus que vivemos, uma piada corre nas redes sociais. Quem acelerou o processo de Transformação Digital na sua empresa? Entre as opções estão o Chief Technology Officer (CTO), o Chief Information Officer (CIO) e, a opção mais marcada: o coronavírus.
A realidade não destoa das escolas e universidades que, em poucos dias, precisaram migrar suas operações para o online para não perderem o ano escolar, as datas de captação dos novos alunos e, muito menos, o ritmo de aprendizagem já estabelecido desde fevereiro. O mundo virou em poucas semanas e obrigou as instituições mais sólidas e antigas a se renovarem em questão de dias. Mas as soluções não são, necessariamente, só feitas de surpresas.
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Uma nova era
Na última década a discussão sobre o futuro da educação frente aos novos tempos ganhou força nos mais distintos centros acadêmicos e, por que não, na própria sala de aula. Percebemos, embasados em pesquisas e aplicações ao redor do mundo, que uma educação personalizada e que acompanha o ritmo de aprendizado de cada aluno traz resultados notáveis à aprendizagem. Também, mais recentemente, começamos a revisar nossos currículos para termos sistemas de ensino que preparem alunos para os desafios de viver no século XXI. O objetivo, ali, é reduzir a distância entre o que aprendemos na sala de aula e o que, de fato, aplicamos no mercado de trabalho.
Já o mercado de trabalho, por sua vez, é tema de uma pauta à parte. Em atualização acelerada seguindo o prumo da 4ª Revolução Industrial, as mudanças do mercado já não acompanham o tempo padrão dos cursos de graduação. Em quatro anos, tudo pode mudar e aquilo que se acreditava atender demandas, não atende mais.
Mas e a educação?
As mudanças recorrentes cobram dos professores e coordenadores novas posturas frente à este cenário. Quando o aluno tem acesso a inúmeras fontes de saber na palma da mão, qual passa a ser o papel do professor? Qual passa a ser o lugar da escola, que originalmente tornou-se obrigatória para atender às demandas da Primeira Revolução Industrial, nos idos do século XIX? E, principalmente, quem ensina quem está ensinando? Tudo é novo.
Os professores vêm aos poucos se adaptando às novas plataformas tecnológicas que surgem quase que diariamente e a escola se assume também como espaço de curadoria de conteúdo, de desenvolvimento de senso crítico e de habilidades que formarão os profissionais do futuro. Afinal de contas, as soft skills (aptidões mentais, emocionais e sociais que compõem a personalidade e o comportamento profissional) hoje motivam mais contratações do que as hard skills. O conhecimento está em todo lugar, as competências não. E se falamos de 4ª Revolução Industrial também é hora de falar da Educação 4.0.
Educação 4.0 – O que é?
Em uma nova Era em que automação e digital são palavras de ordem, a educação precisa se adaptar na formação dos nossos cidadãos. E essa adaptação flerta com muito mais força com a prática e um aprendizado colaborativo, dinâmico e cheio de testes do que com o que entendemos como uma típica sala de aula.
Em um cenário em que não é mais possível ter um panorama geral das tecnologias à medida que elas são lançadas, como acontecia até pouco atrás, surge uma nova fase na Educação mundial. Aqui o ideal não é saber planejar, mas sim se preparar – algo que os professores precisam fazer com seus estudantes para que eles consigam aproveitar ao máximo as tecnologias que os rodeiam. E, principalmente, para que saibam como resolver problemas em qualquer cenário.
Reunimos aqui as principais características que compõem o novo cenário da Educação 4.0:
Lifelong learning
Com a velocidade das mudanças no mercado de trabalho e às habilidades exigidas para as novas funções que estão surgindo, um novo conceito ganha força dentro da Educação 4.0. A de que a educação continuada (tradução para Lifelong Learning) é agora um processo que nos acompanha durante toda a vida. A ideia de estudar formalmente até os 25 anos, aproximadamente, e depois entrar no mercado de trabalho deixa de existir porque a preparação torna-se contínua.
Também por isso, outro conceito que também deixa de existir com essa nova Educação é a da medição do aprendizado pelo “seat time”. O que significa isso? Segundo Sal Khan, professor americano que criou a Khan Academy, o aprendizado deixa de ser medido pela quantidade de horas que você se dedica sentado em sala de aula a uma disciplina (o que equivale a créditos/aula) e passa a ser medido pelo aprendizado efetivo. Alguns alunos podem demorar mais e outros menos, mas a disciplina é concluída mediante a certeza do aprendizado.
Nova forma de avaliar
Em um modelo de ensino tradicional, longos períodos de aprendizado – geralmente dois a três meses – são encerrados com avaliações para medir o que de fato o aluno aprendeu. No entanto, em um processo de aprendizagem mais massificado, esse resultado se resume às notas e não às informações que estão por trás delas. Qual índice de acerto das questões? Qual o histórico do aluno em questões desse conteúdo?
As lacunas deixadas pelo processo de avaliação formal passam agora a ser ocupadas por novas formas de avaliação. Uma delas é a Team-Based-Learning (TBL). Nela, os alunos fazem uma prova online rápida em grupo logo ao início da aula e outra similar ao final. A ideia é que eles possam medir o que foi aprendido com o conteúdo daquele dia, além de problematizar e discutir pontos de interesse. Outro modelo amplamente usado também é o da auto avaliação. Entende-se que, em uma educação mais colaborativa, é o aluno quem guia seu processo de aprendizagem com apoio do professor. E é, portanto, ele quem deve refletir sobre os resultados alcançados nas provas e desenhar ali um plano de ação para melhorias.
Importância do pensamento crítico
O processo de aprendizagem saiu dos limites da sala de aula e dos mecanismos de controle que já conhecemos. O aluno tornou-se o centro do processo. Não é mais o tempo dedicado à disciplina, não é mais a avaliação bimestral. Os conteúdos são compartilhados, discutidos em sala de aula e personalizados de acordo com o perfil de cada um. Mas quem é esse novo aluno? Na Educação 4.0, a escola e o professor têm como desafio desenvolver o pensamento crítico nos alunos para que eles possam ter a segurança de guiar seus próprios processos. Isso significa aprender a questionar, duvidar e testar de toda informação que chega e elencar aquilo que realmente faz sentido.
Economia da atenção
A Educação 4.0 vem para preparar o aluno para um novo mundo e dar a ele todo o suporte para guiar sua jornada de aprendizagem. Mas ela encontra um desafio enorme neste novo mundo: manter a atenção dos alunos focada em um mundo hiperconectado. Os conteúdos educacionais disputam o foco dos indivíduos e dos estudantes a todo momento. E aqui, o desenvolvimento de habilidades socioemocionais se faz necessária para evitar a dispersão e permitir que o aluno mantenha-se focado em seu desenvolvimento.
Embora muitos estudos e práticas ao redor do globo confirmem novas formas de aprendizado e reorganizem o que são prioridades no ensino de crianças e adolescentes, o processo para mudar uma estrutura de educação que prevaleceu nos últimos séculos tende a ser lenta e gradual – exceto quando algo excepcional acontece, como vivemos este ano com a pandemia do COVID-19. Assim como os professores precisam de formação sobre esse novo papel que ocupam, é preciso encontrar respaldo para essa atuação dentro das escolas e Secretarias de Educação, além das próprias diretrizes do Ministério da Educação. Os pais também são aliados importantes no processo de mudança, trazendo reforço nos estudos auto-guiados dos estudantes.
Fonte: Esse artigo foi escrito pelo Prova Fácil, startup líder na América Latina em gestão de avaliações para diversas instituições de ensino. Leia mais conteúdos como esse clicando aqui.